Algumas semanas atrás, a Gen Z roubou o guarda-roupa dos avós e desfilou por aí com estéticas que não se viam há tempos, criando looks super criativos e virais. Essa onda escapista que olha pro passado não é de hoje — o ciclo da moda é repetição. Mas o que ninguém esperava é que, depois de se vestir de vovó estilosa, eles iriam querer roubar também o look da casa da vó — e que isso viraria item de desejo pra tanta gente.
Hoje vamos falar sobre o que é a estética da casa com cara de vó e por que ela faz tanto sentido com os desejos atuais de estilo, conforto e nostalgia que estamos vivendo como sociedade. Acompanhe até o fim e entenda quais elementos da casa de vó podem ser incorporados na sua casa também (sem cair no cafona!).
Não é de agora que muita gente está cansada e querendo voltar para algum lugar de estabilidade. Uma vontade coletiva de fugir para as montanhas ou, ao menos, entrar numa realidade mais previsível — mas ainda interessante. Desde a pandemia, sentimos isso. E agora buscamos experiências e ambientes que conversem com esse sentimento. A casa de vó entra aí: lugar de memória, aconchego, conexão e profundidade emocional.
Mesmo que muitos critiquem a imagem meio bagunçada, maximalista e carregada desse lugar quase místico no nosso imaginário, a maioria tem abraçado o misticismo do cheiro de café coado com bolo no forno. Seja adotando só alguns elementos ou mergulhando de cabeça, como as jovens senhoras do TikTok.
Como decodificar a estética casa de vó?
Vamos começar com os clássicos quase clichês da casa de vó brasileira, mesmo. Muitas avós vivem em casas antigas — construídas pela família ou compradas há décadas — e têm um carinho especial por materiais naturais e duradouros. O piso de taco ou de madeira em geral é quase regra nas casas de vó. Isso porque é uma escolha muito ligada à geração dos bebês da guerra e baby boomers, que valorizam o que é “de verdade” e dura muito tempo.
Além do piso de taco, os azulejos são protagonistas. Sejam lisos ou pintados, eles aparecem (e muito!) na cozinha e no banheiro — geralmente em formatos pequenos. Hoje, esses revestimentos são relíquias. Há quem deteste, mas banheiros rosa ou azul-bebê estão bombando nas redes. E esse fenômeno impulsiona a volta dos revestimentos retrô, que estavam meio apagados durante a pandemia, quando o “clean” dominava os ambientes. Agora o retrô e o vintage são tudo o que se fala.
Nessa mesma onda retrô, os pisos de caquinho — puro suco de brasilidade — geralmente vêm no combo “casa dos anos 70 e 80”. Essas casas têm um estilo muito particular e bem identitário do Brasil, já que o país vivia um momento de valorização da cultura nacional. E, claro, nessa época também rolava a influência hippie (com força no Brasil por causa do tropicalismo), o que trouxe ainda mais amor pelos materiais naturais, feitos à mão. Cerâmica artesanal, móveis em madeira maciça, decoração com textura — tudo isso brilhou lá atrás e agora está voltando com força total.
Falaremos mais sobre os azulejos e suas variações na arquitetura atual no blog em breve.
E se quiser saber mais sobre retrô e os anos 70/80, logo logo tem mais conteúdo especial sobre isso também!
O retrô como resposta emocional ao presente
O retrô é uma resposta direta à macrotendência do escapismo. As pessoas estão buscando ambientes familiares para se proteger do caos do nosso mundo hiperconectado. Não que o mundo analógico fosse livre de tragédias — mas a gente sabia de menos e se preocupava mais com o que estava perto.
Nesse contexto, a estética retrô permite imaginar uma realidade alternativa — ao menos dentro de casa. E sonhar, nesses tempos, é quase uma forma de sobrevivência emocional.
Separamos algumas referências de ambientes com os revestimentos citados, pra quem precisa de um empurrão visual na hora de decorar (sem parecer que está na casa da vó real oficial).
Se não quiser reformar, vai de decoração
Nem todo mundo pode (ou quer) reformar. E tudo bem. Se sua casa não tem um taco legítimo ou azulejo rosa original, a decoração pode fazer esse papel com muito estilo. O que não falta na casa de vó são abajures, enfeites e objetos handmade.
Luzes secundárias com tom quente trazem conforto imediato e uma atmosfera retrô, ainda mais se estiverem posicionadas do lado de uma poltrona ou sofá fofinho — o combo perfeito pra ler um livro.
Já o handmade é a pedida ideal (pros habilidosos ou pros garimpeiros). Capas de crochê para filtro de barro, paninhos de mesa, aquela esculturinha feita na aula de cerâmica... O importante é trazer um toque pessoal pra casa. Cuidado com o lar é quase um dom das avós.
Também separamos algumas referências usáveis de abajures e peças em crochê pra você se inspirar.
O novo luxo é o conforto emocional
Esses elementos pessoais representam algo que hoje é prioridade: segurança emocional. O “clean” da pandemia simbolizava esterilização, ordem e controle. Agora, o conforto mora na luz baixa, nos materiais naturais e nas experiências sensoriais — um rebote direto da privação desses sentidos nos últimos anos.
A casa da vó representa isso perfeitamente: lugar que acolhe todo mundo com carinho. E nesse espírito, plantas também são um clássico. Elas trazem memória, afeto e sensorialidade. E sim, você consegue manter uma jibóia viva!
Filtro de barro é pop (e muito brasileiro)
Não tem como falar de casa de vó sem falar dele: o filtro de barro. Ele aparece em quase todas as releituras dessa estética e carrega identidade cultural brasileira como poucos objetos. Além de super funcional e saudável, ele ainda pode ser estiloso — a prova viva de que o essencial também pode ser item de design.
Memória é parte do design
Por fim, algo essencial nas casas de vó — e que a gente devia trazer de volta — são as recordações. Com a digitalização, fotos impressas e quadros foram substituídos por feeds e rolos de câmera. A estética da casa de vó é o convite ideal pra relembrar momentos: imprimir fotos esquecidas no celular, enquadrar lembranças de viagens, expor objetos com história.
Mais do que nostalgia, isso tudo traz humanidade pras casas. E nos faz questionar: por que a gente parou de decorar com coisas que realmente têm a ver com a gente?
A casa com cara de vó é, na real, um convite pra voltarmos a viver as nossas casas. Ao invés de deixá-las sempre perfeitamente organizadas e pensadas pro Instagram, talvez seja hora de permitir que elas sejam vivas, mutáveis, afetivas e verdadeiras.
Então, me conta: você vai aderir à estética (ou melhor, ao conceito) da casa de vó?
Vai enxergar arquitetura como necessidade — não luxo?
Porque aqui, a gente acredita que casa é feita pra quem mora, não só pra quem vê.